quinta-feira, 1 de julho de 2010

Dunga e as necessárias ponderações

Amigos, retomo o assunto pela última vez para alguns esclarecimentos sobre o episódio ocorrido entre o treinador e o repórter da Rede Globo. Friso que, em tempo algum, este colunista realizou – ou tentou realizar - algum tipo de diagnóstico clínico ou qualquer coisa parecida. Apenas descrevi - de forma técnica - o desnecessário rompante de agressividade do nosso comandante.
 
Creio que seja desnecessário afirmar que todo e qualquer laudo diagnóstico é construído através de sessões clínicas dentro do consultório (de forma presencial, sempre), aplicações de testes e início de trabalho terapêutico. Jamais um psicólogo (seja do meio esportivo ou clínico) pode diagnosticar qualquer tipo de patologia ou comportamento desviante à distância. E ainda que isso fosse possível, jamais expor seu paciente e revelar detalhes do atendimento e quadro psicológico.
 
Reforço que o treinador necessita esquecer seu tempo de jogador e perceber que as funções atuais são diferentes das que desempenhou no passado – dentro das quatro linhas. Fora delas, é preciso mais calma, cabeça fria, paciência e tolerância, mesmo quando todo um país (ou boa parte dele) exige resultados, jogadores convocados e reivindica vitórias e conquistas. Não deve ser nada fácil suportar toda essa pressão. Uma vez aceito o desafio, conduta, paciência e sobriedade são posturas esperadas para aquele que comanda o selecionado mais vitorioso de todos os tempos e que traz consigo 190 milhões de brasileiros apaixonados pelo futebol e pela equipe.
 
Carisma, bom humor e cordialidade nunca foram características marcantes de Dunga. Aliás, bem longe disso. O problema maior, amigos, é que a passionalidade do povo brasileiro – quase volátil – consegue migrar do amor intenso ao mais profundo ódio em apenas noventa minutos. Se conquistarmos o hexa, Dunga será herói nacional. Do contrário, ninguém lembrará das vitórias na Copa América, Copa das Confederações e primeira colocação nas Eliminatórias. Atualmente, por conta dos resultados, Dunga tem uma aprovação imensa da população brasileira. Talvez até maior que a do presidente da República. Em caso de revés na África, possivelmente não conseguirá emprego em alguma equipe nem no território nacional. Este, na verdade, tem sido o erro capital do comandante: não perceber que está indo para o tudo ou nada no jogo de corpo diante da uma nação que tanto torce pela conquista deste Mundial . Se ela vier, ótimo, riqueza e alegria para todos. Se o pior ocorrer, as ausências de Ganso, Neymar, Ronaldinho Gaúcho e Adriano virão à tona com toda força, assim como a grosseria no comportamento do treinador será lembrada por muito tempo.
 
A impressão é que Dunga quer provar a todo país que ele tem a razão em suas convicções e que – custe o que custar – trará o caneco para casa. Guarda levantada, defesas a postos, discurso ensaiado e a velha máxima: “o ataque é a melhor defesa”. Desta forma, nosso treinador buscará a glória maior em solos africanos. Torcemos por isso, claro – mas não custava nada ele se esforçar para não perder a compostura diante das lentes do mundo. Os técnicos brasileiros agradecem e aqueles que apreciam a boa educação, também. Aliás, as desculpas do técnico foram bem recebidas por aqui.